
De onde viemos
O Pretas no Topo nasceu oficialmente em julho de 2022, durante a primeira edição do evento Aquilombar, em Barra Mansa (RJ). Mas sua origem está enraizada muito antes, na história de vida de sua fundadora, Rute Pereira.
Criada em um contexto de vulnerabilidade, Rute vivenciou de perto os impactos da violência doméstica e da pobreza. Após a separação dos pais, sua mãe — sem escolaridade e sem nunca ter trabalhado — precisou criar sozinha três filhas em meio à escassez. O acesso a programas sociais como Bolsa Escola e Bolsa Família foi fundamental, mas o que realmente mudou o rumo da vida de Rute foi a educação.
Durante o ensino médio, ingressou no Programa Senac Gratuidade, onde fez um curso profissionalizante de Assistente de RH. No terceiro ano, enquanto fazia o pré-vestibular social do Cederj, também conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada como babá, trabalhando no contraturno das aulas para ajudar nas despesas da casa.
Mais tarde, ingressou no curso de Psicologia com bolsa integral pelo ProUni.
Das rodas de conversa ao Hub
Ao se formar na faculdade, Rute sentiu um chamado: retribuir à sociedade o que havia conquistado. Em março de 2019, deu início a um projeto de rodas de conversa gratuitas para mulheres, em parceria com a Fundação de Cultura de Barra Mansa. Ela mesma arcava com os custos de coffee break e lembrancinhas — tendo apenas o espaço como apoio.
Os encontros abordavam temas como violência contra a mulher, dependência emocional e relacionamentos abusivos. Com o tempo, o público e o foco mudaram: Rute percebeu que autonomia financeira era uma das principais chaves para a liberdade feminina — algo que sua mãe nunca teve, mas que ela pôde conquistar.
A partir daí, passou a frequentar eventos das Associações Comerciais e do Sebrae, percebendo, no entanto, que as mulheres negras eram minoria absoluta nesses espaços de empreendedorismo. Essa constatação foi decisiva: em 2022, o projeto foi reformulado para se dedicar exclusivamente ao fortalecimento de mulheres negras — e assim nasceu o hub Pretas no Topo.


Uma rede em movimento
O Pretas no Topo nasceu da escuta e se fortaleceu no encontro. O que começou como rodas de conversa com poucas mulheres, hoje se tornou uma rede viva e afetiva, composta por mais de 250 mulheres negras de diferentes cidades do Sul Fluminense.
Não somos apenas um grupo — somos um espaço de acolhimento, partilha e construção coletiva. Em cada conversa, oficina ou caravana, afirmamos nosso direito de existir com dignidade, crescer com apoio e ocupar espaços com estratégia.
Nossas conexões não se dão apenas em eventos: elas acontecem nos bastidores, no apoio entre ngócios, nas palavras de incentivo para não desistir. A força do hub está na comunidade que se reconhece e se impulsiona.
Com poucos recursos e muita entrega, realizamos ações que nascem de demandas reais: empreendedoras buscando orientação, profissionais enfrentando o racismo institucional, jovens negras em busca de referências.
A cada projeto, reafirmamos: não estamos sozinhas — estamos em rede. E juntas, chegamos mais longe.

A história continua
O Pretas no Topo é mais que um projeto. É uma resposta coletiva à exclusão histórica que silenciou tantas vozes.
É também a prova viva de que mulheres negras não apenas resistem — elas lideram, empreendem, curam, educam e transformam.
E essa história está só começando.
